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Lambe-Lambe: a arte de colar cartazes

Os lambes trazem arte e protesto para a cidade e Bueno
 Caos fala do processo de colagem


Por, Alexia Ribeiro



Os cartazes estão presentes nas ruas desde o fim do século XIX, com caráter publicitário, seja para política ou divulgação de algum evento, mas foi no pós-segunda Guerra Mundial que eles adquiriram uma ideia de protesto, foi assim que surgiu a categoria lambe-lambeSão os cartazes artísticos ou promocionais que estão colados em locais públicos e oferecem uma interferência visual positiva para quem passa nos locais.

Daniela Ribeiro – 2018 – Underground Burguer
Na cidade de São Paulo eles estão presentes em diversas regiões, colorindo o cinza junto aos grafites. Na rua Augusta é possível se deparar com vários colados em postes, a avenida Paulista também conta com os pôsteres. Não é difícil estar andando pela rua e perceber algum lambe-lambe.

Em geral eles agradam grande parte do público jovem, que dizem gostar pois dão uma cara nova e cor à cidade. Alguns até gostam como decoração em casa ou em restaurantes.

Lambes para protestar


AUTORAL - 2016 - Av. Brig. Luís Antônio
Os lambes também podem ser de local de fala, abrindo espaço para minorias protestarem, pois seu baixo custo e praticidade permitem que ele seja espalhado por toda a cidade. “Machista calado é um poeta!” é um exemplo, pois chama a atenção das pessoas para a crítica social feita pelas feministas que passaram no local. 

 AUTORAL – 2018 – Av. Paulista
Também aparecem junto com manifestações, como o que questiona a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada no dia 14 de março de 2018 junto com seu motorista Anderson Gomes. O cartaz, colado na avenida Paulista no dia 15 março, apareceu após uma manifestação que aconteceu ali. Questiona mais que a morte da vereadora, mas também a morte das mulheres negras, das lésbicas, das minorias que são mortas todos os dias. Tem os dizeres “Marielle mais uma mulher assassinada” junto com a frase dita por ela “quantos mais têm que morrer para que essa guerra acabe?”.


Buenos Caos pela cidade

AUTORAL - 2016 - Av. Paulista
Luís Bueno ou Bueno Caos, como é conhecido, é o autor da imagem ao lado chamada de “Pelé beijoqueiro”. Ele contou em entrevista à Folha de S. Paulo que “a ideia é promover um encontro de culturas”, pois o jogador é uma figura pública conhecida em todo o mundo e aparece sempre com outras personalidades como o Bob Marley ou Monalisa, que não se relacionam ao mundo do futebol. 
Giovana Ribeiro - Av. Paulista

 Outra obra dele é “O casal”, ela foi exposta na Av. Paulista durante o processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, que desencadeou muitas manifestações contra e a favor ao movimento. O casal de namorados mostra os dois extremos vivendo em harmonia, a garota de vermelho representando os petistas e o rapaz de camisa da seleção brasileira representando os antipetistas, e foi propositalmente colocado em cima de cartazes que chamavam para um ato de protesto. Este lambe não é apenas decorativo, é político, foi uma maneira de Bueno se posicionar em meio a tanta discórdia partidária. Ele mesmo deixou claro em entrevistas que sentiu a necessidade de falar sobre os acontecimentos.

Entrevista com Bueno Caos

Você começou seus trabalhos nas ruas no ano de 2007, o que te levou a isso?

        Naquela época eu havia percebido a força da arte de rua em São Paulo, depois de alguns anos morando na cidade (me mudei para cá em 2004). Aí eu quis experimentar e não parei mais.

Como funciona para que você possa colar os lambes? Tem algum tipo de autorização que deva pedir?

         Em geral trabalho sem autorização. Mas procuro lugares que de certa forma são mais receptivos à arte.

Seus trabalhos ficam expostos nas ruas, sujeitos a depredações, você normalmente faz um reparo das obras?

         Às vezes sim, mas geralmente não. A deterioração faz parte do processo.

AUTORAL - 2018 - Av. Paulista 
Um de seus trabalhos mais populares é o “Pelé beijoqueiro”. Em entrevista à Folha de S. Paulo, você disse que busca promover um encontro de culturas do jogador mundialmente conhecido com outras personalidades. As celebridades que são colocadas junto a ele são escolhidas com algum critério ou de forma aleatória?


          Não, nada do que faço é aleatório. As escolhas partem do meu repertório, de gostos pessoais, mas também procuro lidar com os significados que cada personagem traz.

Você tem obras que são politizadas, como os lambes “O casal” e o da vereadora do PSOL, Marielle Franco. Na sua opinião, é necessário que pessoas inseridas no meio artístico tenham opiniões sobre assuntos políticos/sociais?
          
          Penso que ter opiniões sobre questões políticas é algo necessário a qualquer cidadão. No entanto, não acho que produzir obras que toquem diretamente temas políticos ou sociais seja uma obrigação para todos os artistas. Até porque, produzir arte já é um ato político em si.

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