Como a arte da bobina se entrelaça com a arte do pincel
Como a arte da bobina se entrelaça com a arte do pincel
Por, Beatriz Carapeto
Expressionismo:
da pincelada à câmera
“O Grito” é uma pintura de Edvard Munch, 1893. |
Esse período se estabeleceu
no século XIX como uma reação ao Impressionismo - aquele de Monet,
Renoir e Manet. Ele captava, como o próprio nome diz, a impressão, a sensação, a
introspecção, se valendo de cores suaves, puras, dissociadas e sem contornos definidos.
“Impressão, nascer do sol” de Claude Monet, 1872. |
Nasce na década de 20, na Alemanha, o retrato
social da agitação, paranoia e depressão vivenciada época. O Expressionismo
Alemão queria explorar aquilo que estava reprimido e cru no ser humano. A razão
disso? O período histórico vigente.
No pós Primeira Guerra Mundial, a nação germânica estava
completamente devastada. A inflação estava nas alturas, a população deprimida e
o Tratado de Versalhes deixou uma herança de culpa e
vergonha para o país (o que propiciou o Nazismo
anos depois).
Dessa forma, acharam no
movimento uma espécie descrição e crítica a sociedade. Por mais que a economia
estivesse de mal à pior, o incentivo a produção cinematográfica com fins de exportação
estava nas alturas. A mistura do sentimento de traição que inundava o alemão
médio junto às influências de Nietzsche
e Freud geraram
os primeiros embriões de uma nova era.
Luz,
Câmera... Tensão!
Painel do “Cine Caixa Belas Artes” com colagens expressionistas por Beatriz C. |
Com teor de desafio às
autoridades (retratadas como vilãs, muita das vezes, por conta da desconfiança
do povo alemão para com o Governo), as obras cinematográficas mostravam distorção de quase todos os aspectos. Era
um misto de sonho e pesadelo, um sentimental lúdico. Como se o horror vivido conseguisse
alcançar o local de fuga, de imersão dos viventes daquele tempo.
A razão ficava longe das cenas de fantasia apresentadas. O jogo de
câmera mostrava angulações consideradas bizarras e sem muitos cortes ou planos,
era uma espécie de “teatro
filmado” .
Os filmes não possuíam tecnologia de cor, diferentemente
das pinturas, sempre com cores fortes. Contudo, o a esquemática “luz e sombra”
evidenciava os contornos dos rostos dos personagens para dar dimensão e
angulosidade.
Cena do filme “O Gabinete do Dr. Calligari”, de
1920. Um dos principais expoentes do movimento
|
O crítico de cinema Miguel Forlín do blog “NosBastidores” e também consultor da Rádio Jovem Pan conversou conosco e definiu esse momento como “humano, visceral e visual ”. À exemplo temos “Nosferatu”, “Metrópolis”, “Aurora”, “A Caixa de Pandora”, “O Vampiro” e o clássico “O Gabinete do Dr. Caligari.”
Cena de Nosferatu (1922), de F.W.
Murnau
Cena de ‘Metrólopolis’ (1927), de Fritz Lang
Cena de ‘A Caixa de Pandora’ (1929), de Georg
Wilhelm Pabst
Cena de ‘O Gabinete do Dr. Caligari” , de Robert
Wiene
Essa estética, amada por muitos e odiada por tantos outros,
causou impacto em diversos diretores que formaram movimentos posteriores, como
o francês Cinema Noir e também componentes mais recentes do cinema, indo
de Alfred Hitchcock até Tim Burton.
Forlin nos dá um top 5
de filmes atuais que vão fazer aqueles que não tem muita paciência para
“filmes antigos” entenderem qual é a atmosfera do Expressionismo Alemão.
“Material
World” – A arte pop antes de ir para o cinema
Símbolo do Rolling Stones por Andy Warhol. |
Reacionário ao movimento do expressionismo
abstrato, os anos 50 nos Estados Unidos e Inglaterra foram tomados pela Arte Pop. No
mundo, o pós Segunda Guerra trazia uma sensação de otimismo para grande parte
da população. A economia da terra do Tio Sam estava em disparada e a riqueza
populacional deixava com que grande parte tivesse acesso à cultura.
Muitas das casas tinham
televisores coloridos e as bancas estavam lotadas de sedutoras e vibrantes
revistas
O “American
Way Of Life” estava se tornando uma realidade
estampada em outdoors com as mais excitantes publicidades do mundo capitalista.
Essa esperança de um
futuro tecnológico e consumista trouxe alguns artistas à refletiram sobre a barreira
entre o que era considerado arte e a cultura de massa, popular.
Colagem Pop Art. " Marylin Monroes" de Andy Warhol. Um dos principais quadros do movimento. |
“Com base nessa interpretação do que era “industrial”, produzido para
massa, nasceu uma arte – que sim, tem valor cultural semelhantes aos de
estátuas gregas e poemas - que é jovem, espirituosa, sexy e glamorosa, mas
ainda sim, produzida em larga escala, descartável e barata", explica Thays Heleno.
Painel expositivo do "Caixa Cine Belas Artes" com colagens do expressionismo em Pop Art por Beatriz Carapeto. |
Com colagens e cores vibrantes, as obras “Arte Pop” podem incorporar qualquer material já existente, sendo ele o mais culto ao mais banal. E se engana quem alega não existir senso crítico e político em produções desse tipo. É arriscado criticar a bolha de consumo.
No entanto, os jovens
ficaram completamente fascinados pela atmosfera dessa nova forma de expressão
(que impera até hoje, com camisetas de ídolos da música, seriados ou games, por
exemplo).
Painel expositivo do "Cine Caixa Belas Artes" com colagens de filmes clássicos dos anos 20 aos 60, por Beatriz Carapeto. |
O
POP não poupa ninguém
Nomes do design foram bem
cultuados para a concepção da novidade do mundo de cultura popular. Andy Warhol
é, disparado, o mais conhecido. Ele construiu sua carreira com base em retratar
personagens da música e do cinema, ilustrando o quando eles eram simplórios e
vazios. O artista mostrava o
fascínio pelo consumo, a falta de significado no que era impresso por essas
figuras e a fama como um “jogo arriscado”.
Portanto, o jovem Warhol
decidiu se aventurar pelas películas dos filmes e lançou o contraditório (mas
bem auto-explicativo)“Sleep”, que contém frames que se repetem por quase 6
horas (inspiração para clipes do formato da famosa “MTV”).
Cena que se repete em “Sleep” (1963), de
Andy Warhol
Telonas 2.0
Hollywood gosta muito
dessa estética “efêmera e descartável”, mas ainda sim “jovem, sensual e
espirituosa”. A vida rockstar, as cores,
os delírios que o dinheiro traz e essa forma tão descolada rendeu bilheterias
grandiosas para alguns diretores que resolveram apostar.
Miguel Forlín, como
cinéfilo confesso, traz alguns bons exemplos de Arte Pop, no contexto e na
estética (e até em seriados):
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