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Expressionismo e Pop Art

Como a arte da bobina se entrelaça com a arte do pincel



Por, Beatriz Carapeto


Expressionismo: da pincelada à câmera


O Grito” é uma pintura de Edvard Munch, 1893. 
   Edvard Munch. Certamente, quem teve aulas de História da Arte já se deparou com esse nome. Na realidade, até quem não teve formação acadêmica sequer conseguiu ter a oportunidade de conhecer uma de suas obras. “O Grito”, de 1893, é uma das pinturas mais icônicas (se não for a mais) do Expressionismo nas artes visuais. 
   Esse período se estabeleceu no século XIX como uma reação ao Impressionismo - aquele de Monet, Renoir e Manet. Ele captava, como o próprio nome diz, a impressão, a sensação, a introspecção, se valendo de cores suaves, puras, dissociadas e sem contornos definidos. 

“Impressão, nascer do sol” de Claude Monet, 1872.

"Aula de Dança”, pintura do artista Edgar Degas realizada em 1874.

“Um aspecto visual mais soft” como define Thays Heleno, formada em Artes Visuais pela Belas Artes e integrante do Grupo Itaú Cultural." 

Em entrevista à Beatriz Carapeto, a também atriz afirma que o Impressionismo é a ‘filha menos rebelde’ em comparação ao Expressionismo.

 "Ele traz representações cruas e duras. Uma espécie de desobediência (não tão) velada, o que foi uma grande aposta no cinema”, diz Heleno. 


“A fluidez de cores, contornos, a atmosfera sombria e a sensação de surrealismo causam no espectador a sensação de que algo não está certo. E esse era o exato ponto no qual o movimento queria chegar: inquietude”.


Da História para a película

    Nasce na década de 20, na Alemanha, o retrato social da agitação, paranoia e depressão vivenciada época. O Expressionismo Alemão queria explorar aquilo que estava reprimido e cru no ser humano. A razão disso? O período histórico vigente.
      No pós Primeira Guerra Mundial, a nação germânica estava completamente devastada. A inflação estava nas alturas, a população deprimida e o Tratado de Versalhes deixou uma herança de culpa e vergonha para o país (o que propiciou o Nazismo anos depois).
      Dessa forma, acharam no movimento uma espécie descrição e crítica a sociedade. Por mais que a economia estivesse de mal à pior, o incentivo a produção cinematográfica com fins de exportação estava nas alturas. A mistura do sentimento de traição que inundava o alemão médio junto às influências de Nietzsche e Freud geraram os primeiros embriões de uma nova era.  
Luz, Câmera... Tensão!

Painel do “Cine Caixa Belas Artes” com colagens expressionistas por Beatriz C.
     Com teor de desafio às autoridades (retratadas como vilãs, muita das vezes, por conta da desconfiança do povo alemão para com o Governo), as obras cinematográficas mostravam distorção de quase todos os aspectos. Era um misto de sonho e pesadelo, um sentimental lúdico. Como se o horror vivido conseguisse alcançar o local de fuga, de imersão dos viventes daquele tempo.
   A razão ficava longe das cenas de fantasia apresentadas. O jogo de câmera mostrava angulações consideradas bizarras e sem muitos cortes ou planos, era uma espécie de “teatro filmado” .
   Os filmes não possuíam tecnologia de cor, diferentemente das pinturas, sempre com cores fortes. Contudo, o a esquemática “luz e sombra” evidenciava os contornos dos rostos dos personagens para dar dimensão e angulosidade.

Cena do filme “O Gabinete do Dr. Calligari”, de 1920. Um dos principais expoentes do movimento.

    O ritmo é lento e as imagens  deformadas, desvirtuadas e incômodas a visão. Mas além disso, elas tem um propósito, passam uma mensagem. 
   O crítico de cinema Miguel Forlín do blog “NosBastidores” e também consultor da Rádio Jovem Pan conversou conosco e definiu esse momento como “humano, visceral e visual ”.  À exemplo temos “Nosferatu”, “Metrópolis”, “Aurora”, “A Caixa de Pandora”, “O Vampiro” e o clássico “O Gabinete do Dr. Caligari.”


Cena de Nosferatu (1922), de F.W. Murnau

Cena de ‘Metrólopolis’ (1927), de Fritz Lang

                                      Cena de ‘A Caixa de Pandora’ (1929), de Georg Wilhelm Pabst

                                  Cena de ‘O Gabinete do Dr. Caligari” , de Robert Wiene

     Essa estética, amada por muitos e odiada por tantos outros, causou impacto em diversos diretores que formaram movimentos posteriores, como o francês Cinema Noir e também componentes mais recentes do cinema, indo de Alfred Hitchcock até Tim Burton.
      Forlin nos dá um top 5 de filmes atuais que vão fazer aqueles que não tem muita paciência para “filmes antigos” entenderem qual é a atmosfera do Expressionismo Alemão.


“Material World” – A arte pop antes de ir para o cinema

Símbolo do Rolling Stones por Andy Warhol.
    Reacionário ao movimento do expressionismo abstrato, os anos 50 nos Estados Unidos e  Inglaterra foram tomados pela Arte Pop. No mundo, o pós Segunda Guerra trazia uma sensação de otimismo para grande parte da população. A economia da terra do Tio Sam estava em disparada e a riqueza populacional deixava com que grande parte tivesse acesso à cultura.  
    Muitas das casas tinham televisores coloridos e as bancas estavam lotadas de sedutoras e vibrantes revistas
    O “American Way Of Life” estava se tornando uma realidade estampada em outdoors com as mais excitantes publicidades do mundo capitalista. 
    Essa esperança de um futuro tecnológico e consumista trouxe alguns artistas à refletiram sobre a barreira entre o que era considerado arte e a cultura de massa, popular.

Colagem Pop Art. " Marylin Monroes" de Andy Warhol. Um dos principais quadros do movimento.


      “Com base nessa interpretação do que era “industrial”, produzido para massa, nasceu uma arte – que sim, tem valor cultural semelhantes aos de estátuas gregas e poemas - que é jovem, espirituosa, sexy e glamorosa, mas ainda sim, produzida em larga escala, descartável e barata", explica Thays Heleno. 

Painel expositivo do "Caixa Cine Belas Artes" com colagens do expressionismo em Pop Art por Beatriz Carapeto.

    Com colagens e cores vibrantes, as obras “Arte Pop” podem incorporar qualquer material já existente, sendo ele o mais culto ao mais banal. 
E se engana quem alega não existir senso crítico e político em produções desse tipo. É arriscado criticar a bolha de consumo.
   No entanto, os jovens ficaram completamente fascinados pela atmosfera dessa nova forma de expressão (que impera até hoje, com camisetas de ídolos da música, seriados ou games, por exemplo).

Painel expositivo do "Cine Caixa Belas Artes" com colagens de filmes clássicos dos anos 20 aos 60, por Beatriz Carapeto.
O POP não poupa ninguém

    Nomes do design foram bem cultuados para a concepção da novidade do mundo de cultura popular. Andy Warhol é, disparado, o mais conhecido. Ele construiu sua carreira com base em retratar personagens da música e do cinema, ilustrando o quando eles eram simplórios e vazios. O artista mostrava o fascínio pelo consumo, a falta de significado no que era impresso por essas figuras e a fama como um “jogo arriscado”.
   Portanto, o jovem Warhol decidiu se aventurar pelas películas dos filmes e lançou o contraditório (mas bem auto-explicativo)“Sleep”, que contém frames que se repetem por quase 6 horas (inspiração para clipes do formato da famosa “MTV”). 

                                      Cena que se repete em “Sleep” (1963), de Andy Warhol


Telonas 2.0

    Hollywood gosta muito dessa estética “efêmera e descartável”, mas ainda sim “jovem, sensual e espirituosa”.  A vida rockstar, as cores, os delírios que o dinheiro traz e essa forma tão descolada rendeu bilheterias grandiosas para alguns diretores que resolveram apostar.
    Miguel Forlín, como cinéfilo confesso, traz alguns bons exemplos de Arte Pop, no contexto e na estética (e até em seriados):






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