Pular para o conteúdo principal

As remodelações sociais e as novas tendências de consumo

As transformações sociais e as mudanças de consumo e identidade frente às inclinações para o consumo consciente 

Por, Karen Ramos




       A Revolução Industrial e a Revolução Francesa trouxeram consigo uma bagagem de remodelações e mudanças na estrutura da sociedade. Os novos fenômenos sociais, como a globalização, a individualização e o avanço das tecnologias das comunicações modificaram as instituições, os indivíduos e as relações sociais.

Foto Reprodução, Zygmunt Bauman
     O processo de modernização traz um rompimento com as instituições tradicionais e a solidez do passado, como afirma o sociólogo Zygmunt Bauman. Esse processo pode ser refletido na forma de consumo de uma sociedade. A lógica da mercadoria se expande para a formação da identidade e da personalidade individual, juntamente com a percepção fragmentada do tempo - como instantes sem coesão, não contínuo mas cheio de rupturas, a instantaneidade e  momentos únicos que se encerram em si mesmos.

Identidade como mercadoria

Foto reprodução, Stuart Hall


      Segundo Stuart Hall em seu livro “A identidade cultural na pós-modernidade”, o sujeito pós-moderno é “composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas”. Essa fragmentação, formação e transformação constante da identidade do sujeito moderno torna-se uma “celebração móvel”, o que contempla conceitos também trabalhados segundo a modernidade líquida de Bauman. A diferenciação e a identidade, dentro de um contexto capitalista e moderno de instantaneidade e constante transformação, podem ser vistas como uma forma de mercantilização.
      "O objetivo crucial, talvez decisivo, do consumo na sociedade de consumidores (...) não é a satisfação de necessidades, desejos e vontades, mas a comodificação ou recomodificação do consumidor: elevar a condição dos consumidores à de mercadorias vendáveis". Trata-se de uma sociedade que não só hiperconsome, mas que consome para se vender. O consumismo é um tipo de arranjo social, não apenas uma característica individual. “‘Consumir’, portanto, significa investir na afiliação social de si próprio, o que, numa sociedade de consumidores, traduz-se em ‘vendabilidade’”.
      “Ao explorarem o mercado à procura de bens de consumo, (os membros da sociedade de consumidores) são atraídos para as lojas pela perspectiva de encontrar ferramentas e matérias-primas que podem (e devem) usar para se fazerem “aptos a serem consumidos”- e, assim, valiosos para o mercado”. (Bauman, Vida para consumo).


Consumo para suprir

Foto reprodução, Gilles Lipovetsky

       Segundo a visão de Gilles Lipovetsky, o consumo também vem como solução para suprir as faltas e as necessidades, em maioria emocional, dos seres humanos. “A sociedade do hiperconsumo é contemporânea da espiral da ansiedade, das depressões, das carências ao nível do amor próprio, da dificuldade de viver”.
         O consumo muda como as pessoas passam a ver a si mesmas e como elas projetam suas imagens para os outros. “A identificação surge não tanto da plenitude da identidade que já está dentro de nós como indivíduos, mas de uma falta de inteireza que é “preenchida” a partir de nosso exterior, pelas formas através das quais nós imaginamos ser vistos por outros” (Stuart Hall, A identidade cultural na pós-modernidade).


Novas frentes: consumo consciente


      O consumo consciente se trata de consumir o necessário, evitando os excessos, e levando em conta os impactos socio-ambientais, e se liga também ao consumo responsável, que leva também em conta a posição da empresa, como faz, quem faz e em que condições de trabalho. É uma nova tendência, que contraria o hiperconsumo e o consumo em massa, e tem ganhado espaço, principalmente na internet com as influenciadoras digitais e youtubers, que buscam trazer à tona questões importantes tanto para a sociedade quanto meio ambiente e buscando uma nova forma de encontrar sua identidade.
      Para entender melhor essa nova tendência e realidade, nossa equipe conversou com uma graduada em História e com as donas do brechó Apiz, que tentam combater o consumo irrefletido e desenfreado com o consumo de produtos de segunda mão. O resultado você confere aqui.







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lambe-Lambe: a arte de colar cartazes

Os lambes trazem arte e protesto para a cidade e Bueno  Caos fala do processo de colagem Por, Alexia Ribeiro Os cartazes estão presentes nas ruas desde o fim do século XIX, com caráter publicitário, seja para política ou divulgação de algum evento, mas foi no pós-segunda Guerra Mundial que eles adquiriram uma ideia de protesto, foi assim que surgiu a categoria  lambe-lambe .  São os cartazes artísticos ou promocionais que estão colados em locais públicos e oferecem uma interferência visual positiva para quem passa nos locais. Daniela Ribeiro – 2018 – Underground Burguer Na cidade de São Paulo eles estão presentes em diversas regiões, colorindo o cinza junto aos grafites. Na rua Augusta é possível se deparar com vários colados em postes, a avenida Paulista também conta com os pôsteres. Não é difícil estar andando pela rua e perceber algum lambe-lambe. Em geral eles agradam grande parte do público jovem, que dizem gostar pois dão uma cara nova e cor à cida

Cantores de rua: um universo que não para de crescer

Com maior interação do público, as ruas de São Paulo se tornaram verdadeiros palcos. Por, Fabiana Cruz    "Primeiro ela me aplaudia sem parar, e comentava algo com sua mãe com os  olhos brilhantes, depois, se aproximou para conversar comigo e disse que quando crescesse queria ser talentosa e especial como eu.”, assim que Ana Marcia percebeu que deveria continuar seu caminho na música e que se apresentar nas ruas seria uma ótima maneira de conhecer pessoas e mostrar seu talento.   Cantores de rua: essa história é muito antiga    Não sabemos quem foram os primeiros ou qual estilo musical cantavam, mas sabemos que os cantores de rua estão presentes na nossa sociedade há  milhares de anos.   Segundo o autor Jaa Torrano, do blog Plano de Leitura, há vários registros  deixados na Grécia que indicam a presença de artistas que se apresentavam na rua, alguns exemplos são os Aedos - em grego significa cantor - que existiram na Grécia pré-socrática, artistas que tin

A arte dentro de Red Dead Redemption 2

Os aspectos estéticos e culturais que transformam este jogo em uma obra Por, Andrew Henrique       Red Dead Redemption 2 , jogo desenvolvido pela Rockstar Games, foi lançado no último dia 26 de Outubro e já está conquistando o coração de diversos fãs ao redor do mundo. O motivo disso é bem simples: o jogo é uma grande obra de arte, tanto em questões estéticas, quanto em questões culturais. Foto Reprodução: Geeks United Desenvolvimento e enredo         Segundo a própria desenvolvedora, o jogo demorou o período de oito anos até ser finalizado, e como a empresa é popularmente conhecida por entregar produtos de extrema qualidade, eles utilizaram deste longo tempo para dar toda a atenção aos detalhes possíveis. Red Dead Redemption 2 se passa no ano de 1899, uma época onde o velho-oeste estava chegando ao fim, graças ao avanço da sociedade civilizada. O protagonista desta história se chama Arthur Morgan, um fora da lei que faz parte de uma gangue, dos quais