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Neorrealismo e Cinema Novo

A essência na arte e nas telonas


por, Bianca Burin


O movimento neorrealista

A guerra trouxe abonos para alguns e destruição para outros. No século XX, depois da morte de Hitler e com o fim do Regime Nazifascista, uma corrente com características de esquerda dominou o cenário de vários países, e em principal, da Itália.
Com duração entre 1942 até 1952, o ponto final da Segunda Guerra abalou o mundo e instalou uma realidade dura e pesarosa. Como o cinema é retrato da sociedade, criou-se um novo gênero com uma  linguagem escapista, que retratava a vida difícil dos ali viventes, onde finais felizes não faziam sentido.
Roberto Rossellini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti são expoentes importantes desse novo quadro cinematográfico. Com atores amadores e foco na rotina, esse era um movimento espelho do real, da mudança social e que era muito afrontoso ao antigo governo.


"Ladrões de bicicleta"', de Vittorio De Sica, 1948.

Miguel Forlín, consultor de cinema na Rádio Jovem Pan e também escritor do blog “Nos Bastidores” fez um apanhado de 5 filmes que são a cara da época. Dentre eles:

1. Riso Amaro (Arroz Amargo), de Giuseppe De Santis (1949).
2. Sciuscià (Vítimas da Tormenta), de Vittorio De Sica (1946).
3. La terra trema (A Terra Treme), de Luchino Visconti (1952).
4. Germania Anno Zero (Alemanha Ano Zero), de Roberto Rossellini (1948).
5. Ladri di Biciclette (Ladrão de Bicicleta), de Vittorio De Sica (1948).

Riso Amaro (Arroz Amargo), de Giuseppe De Santis
 Sciuscià (Vítimas da Tormenta), de Vittorio De Sica (1946)
La terra trema (A Terra Treme), de Luchino Visconti (1952)

Germania Anno Zero (Alemanha Ano Zero), de Roberto Rossellini (1948)

Ladri di Biciclette (Ladrão de Bicicleta), de Vittorio De Sica (1948)


Todos quase que documentais e ambientados numa atmosfera pesada, sem muitos cortes de câmera e gravados em locações abertas com “gente como a gente”.


Aspectos Visuais

       O enfoque são os dramas da classe trabalhadora contra o sistema vigente. A atmosfera é sempre intensa (e tensa), fazendo com que os personagens reflitam o tempo todo sobre qual o papel deles e o que estão fazendo naquela situação (existencialismo humano).
Divergindo de pontos do Expressionismo Alemão,  o Neorrealismo Italiano acredita no anti-escapismo. O mundo no qual estavam inseridos era de miséria e destruição. Fugir, mesmo que artisticamente, não era uma opção e a preferência era por um retrato de seu tempo.
O maniqueísmo não o marca presença. O ser humano, para os diretores da época, não eram nem bons e nem maus o tempo todo. Essa dualidade, sem o vilão ou o mocinho, foi um marco no movimento.

Takes de produções pertencentes à estética neorrealista. 


Arte de Contestação: Cinema Novo

O Cinema Novo atingiu diversas partes do mundo, mas foi em terras tupiniquins que ganhou notoriedade e conseguiu trazer certa revolução.
O American Way Of Life invadia as telonas e o foco artístico estava muito diverso em todo o globo. Cada país vivia uma fase e a retratava.
No entanto, os Estados Unidos imperavam na indústria do cinema e em movimento de resposta à Hollywood, alguns diretores decidiram fazer algo mais subjetivo e pessoal.
De 1953 à 1970 esse movimento cresceu, trazendo diversas obras como “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha.


Náthaly Carapeto, que trabalha com audiovisual ressalta a importância desse período no Brasil: “ Esse é um retrato do realismo no Brasil e trouxe uma linguagem própria, feita com custos mais baixos, mas ainda sim com valores estéticos muito interessantes, que fugiam do interesse comercial da época, até pelos temas abordados”.


Fases do Período

A infelicidade com os “finais felizes” conferiu 3 fases ao período:

Primeira Fase, (1960-1964)

    Abordava uma temática rural que parecia quase um documentário de tão realística. Era um cinema de denúncia à miséria e a pobreza que era negligenciada na época.

Roma, Cidade Aberta (1945), de Roberto Rosselinni. Filme que abriu o movimento. 

Segunda Fase, (1964-1968)

      Essa fase é composta por respostas à ditadura e a saída de João Goulart, o Jango, do poder. Foi aí que a consciência que o movimento estava em uma crescente foi estabelecida. Sendo assim, os filmes começaram a ficar mais “pomposos”.

Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha


Terceira Fase, (1968-1971)

    Terceira e última fase vem antes do que chamamos de “Cinema Marginal”, os valores iniciais já estão modificados. A presença do Tropicalismo é muito forte. E em tempos de opressão, temas como canibalismo (sim, canibalismo!) e violência eram extremamente recorrentes.

Como Era Gostoso o Meu Francês (1971), Nelson Pereira dos Santos


Mas o objetivo não era unicamente o choque. Eram os atos simbólicos: o canibalismo representava o Brasil precisando atacar seus opressores e a violência aparece quase sempre como resposta, uma espécie de defesa do mal que aflige os personagens.

O Cinema Novo se interliga e tem raízes no naturalismo literário e artístico.

TRANSPIRAÇÃO E INSPIRAÇÃO

Naturalismo é um movimento artístico-cultural que atingiu às artes plásticas, literatura e teatro em meados do século XIX. O Naturalismo é considerado uma ramificação radical do Realismo, pois também tem o objetivo de retratar a realidade assim como ela é.
É uma tendência das artes visuais que tenta refletir a realidade sem idealização ou dramatização da mesma. O naturalismo tratou as suas personagens e o estudo detalhado das suas características, dando-nos uma concepção e uma visão muito diferente da pintura e da realidade.



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